Paciente quer participar das decisões sobre seu tratamento

Cerca de dois terços das mulheres diagnosticadas com câncer de mama em estágio inicial querem participar na tomada de decisões sobre seu tratamento, de acordo com uma nova pesquisa realizada com pacientes de cinco países diferentes.

Algumas querem o controle completo sobre as escolhas de tratamento, enquanto outras querem compartilhar a decisão com o seu médico, mas apenas uma minoria das pacientes realmente obtém o nível de envolvimento que gostaria.

O estudo, publicado na Journal of Clinical Oncology em fevereiro de 2012, avaliou 683 mulheres com diagnóstico de câncer de mama, tratadas por 62 oncologistas de 5 países diferentes. A pesquisa avaliava as preferências das pacientes referentes ao grau de participação que gostariam de ter na determinação de seu tratamento (se gostariam de ter o controle total, um papel compartilhado com seu médico ou então se o seu médico faria as escolhas), antes e após as consultas médicas, e se estas preferências tinham sido atingidas ou não.

O estudo mostra que apenas 28% das pacientes queriam inicialmente delegar a decisão do tratamento ao seu médico, porém 46% relataram que o médico acabou por tomar a decisão de forma isolada.
Antes da consulta a maioria das mulheres preferia uma decisão compartilhada com seu médico, ou mesmo uma decisão dirigida pela paciente. Após a consulta, 43% das pacientes mudaram para a opção de uma decisão dirigida por elas mesmas, confirmando um desejo de maior envolvimento com o processo de definição terapêutica.

Um terço das pacientes que originalmente desejava que seu médico tomasse a decisão terapêutica preferiria que a decisão fosse compartilhada ou mesmo assumir a decisão por si mesma na avaliação pós-consulta. Uma em cada cinco que originalmente queria compartilhar a decisão preferiria fazer a escolha por conta própria na avaliação pós-consulta.

O estudo mostra alguns aspectos interessantes e confirmam uma modificação na condução do processo da consulta e decisão terapêutica. Na verdade, não é surpreendente que a decisão terapêutica seja mais médico-dirigida do que as pacientes gostariam que fosse. Ainda hoje, os médicos pensam que a maioria das pacientes não deseja participar das decisões, particularmente as referentes a patologias graves, como o câncer. Porém, esta não foi, claramente, a conclusão do estudo. Entre as 282 mulheres que mudaram sua preferência após a consulta com seu médico, um pouco mais da metade modificou sua opinião na direção de um maior envolvimento na decisão terapêutica.

O estudo também mostrou que as pacientes que tiveram uma participação maior na decisão, do que esperavam na avaliação pré-consulta, refletiu em menor conflito com a decisão tomada, o que gerou maior satisfação com a decisão final e maior satisfação com a comunicação durante a consulta.

O resultado do estudo faz sentido no cenário do câncer de mama inicial, onde existem múltiplas opções eficazes de tratamento. Ao serem informadas das opções de tratamento e ao terem esclarecidas suas dúvidas, é de se esperar que as pacientes desejem participar da decisão final.

O estudo reforça a necessidade do médico oncologista de estimular e facilitar a participação da paciente no processo de decisão terapêutica. Em patologias em seu estágio inicial, onde existem múltiplas opções válidas de tratamento, o médico deve explicar as opções existentes, as diferenças entre elas em termos de eficácia e efeitos colaterais e tentar de forma ativa obter as preferências da paciente por meio de uma consulta participativa. De forma alguma esta participação ativa implica em uma diminuição da responsabilidade do médico no seu papel de consultor, muito pelo contrário, a responsabilidade médica continua e continuará sempre de orientar o melhor para seu paciente.

Dr. Cid Buarque de Gusmão
Médico oncologista, fundador do Centro de Combate ao Câncer.

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