O tabagismo é a principal causa de morte evitável no mundo
Nesta entrevista o Dr. Marcelo Santos, médico oncologista associado ao Centro de Combate ao Câncer, esclarece dúvidas comuns sobre o vício de fumar e confirma que abandonar o cigarro é sempre a melhor alternativa.
CCC: Quais são os prejuízos que o cigarro traz para a saúde?
Dr. Marcelo: O tabagismo é considerado pela Organização Mundial de Saúde como a principal causa de morte evitável em todo mundo. Estima-se que existam em torno de 1 bilhão e 200 milhões de fumantes. O total de mortes devido ao uso do tabaco é de 4,9 milhões anuais, o que corresponde a mais de dez mil mortes por dia.
Caso as atuais tendências de aumento de consumo sejam mantidas, chegaremos a 10 milhões de mortes anuais em 2030, sendo metade delas de indivíduos em idade produtiva (entre 35 e 69 anos).
O fumo é responsável por 30% das mortes por câncer e 90% das mortes por câncer de pulmão. O câncer em vários outros órgãos também está relacionado ao consumo de cigarro: boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo uterino.
O fumo também é responsável por 25% das doenças coronarianas, como angina e infarto do miocárdio e cerebrovasculares, como o derrame cerebral. Nas doenças pulmonares obstrutivas crônicas, tais como bronquite e enfisema, 85% das mortes são causadas pelo fumo.
CCC: Existe um tempo para que o cigarro passe a fazer mal
à saúde? E se o fumante consumir poucos cigarros por dia, a saúde dele não sofrerá consequências?
Dr. Marcelo: A relação entre o tempo de exposição ao tabaco e os danos causados à saúde das pessoas existe.
A restrição em lugares fechados tem criado um novo perfil de fumante. A prevalência do chamado fumante leve ou social, que fuma de 1 a 4 cigarros por dia, às vezes em dias alternados, tem aumentado. Acredita-se que este perfil de fumantes será cada vez mais comum e, com isso, o impacto e o risco de doenças associadas ao tabagismo deve ser reduzido.
Mas vale salientar que o risco é menor, porém, continua existindo. Diferentemente do álcool, não existe faixa de tolerância ou dose segura para o tabagista. Quanto mais jovem se iniciar o tabagismo, maior será o risco de tornar-se um fumante pesado e desenvolver doenças relacionadas ao fumo.
CCC: É verdade que após um determinado período em que o fumante deixou o vício, os efeitos do cigarro desaparecem?
Dr. Marcelo: O abandono do cigarro, em qualquer idade, tem impacto importante na diminuição da incidência de câncer de pulmão e outras doenças causadas pelo tabagismo, principalmente as doenças cardio-circulatórias e respiratórias. Após dez anos de abstinência, o risco de desenvolver câncer de pulmão cai em até 50%. Parar de fumar diminui as chances de desenvolver este tipo de câncer, inclusive em quem já teve um tumor de pulmão. É a prevenção do chamado “segundo tumor primário”.
CCC: Existe de fato o fumante passivo?
Dr. Marcelo: Existe sim. O fumante passivo é considerado aquele indivíduo não fumante submetido à inalação de fumaça de cigarros, charutos, cigarrilhas, cachimbo e demais derivados do tabaco, em ambientes fechados.
Os dois componentes principais dessa poluição são a fumaça exalada pelo fumante (corrente primária) e a fumaça que sai da ponta do cigarro (corrente secundária), que é resultante da queima de nicotina, monóxido de carbono, amônia, nitrosaminas, alcatrão e outras substâncias cancerígenas. Esse ar poluído contém três vezes mais nicotina e monóxido de carbono, e até cinquenta vezes mais substâncias cancerígenas.
O tabagismo passivo é considerado a terceira causa de morte evitável no mundo. Em relação a indivíduos não fumantes e não expostos à fumaça de derivados de tabaco, os fumantes passivos apresentam um risco 30% maior para câncer de pulmão e 24% maior para infarto do miocárdio.
CCC: Existem tratamentos eficazes para parar de fumar? Quais são eles?
Dr. Marcelo: Sim, hoje nós dispomos de diversas opções de tratamento para o tabagismo. Existem medicamentos específicos que atuam sobre a vontade de fumar; existem terapias de reposição nicotínica por meio de gomas de mascar, adesivos transdérmicos, sprays nasais e inalantes em aerossol, terapia cognitiva comportamental e, também, acupuntura a laser.
CCC: Os medicamentos realmente ajudam?
Dr. Marcelo: Sim, os medicamentos ajudam e têm um papel importante no conjunto de medidas que estão envolvidas no complexo processo de tratamento para aqueles que desejam se tornar ex-fumantes.
CCC: E qual seria sua recomendação final?
Dr. Marcelo: Gostaria de ressaltar que parar de fumar adianta.
Ao parar de fumar o seu organismo irá recuperar-se dos danos causados pelo cigarro, que serão menores o quanto antes puderem ser interrompidos. Nos casos de doenças já instaladas, é importante salientar que a ausência do cigarro evitará a sua progressão e trará melhora na qualidade de vida.