O impacto de uma equipe multidisciplinar no tratamento do câncer

O diagnóstico do câncer engloba mais de 600 tipos de tumores diferentes, cujos tratamentos variam de acordo com a origem da célula e o tipo do tumor, o estágio em que se encontra e a história natural da doença. A complexidade da doença torna necessário o envolvimento de uma variedade de profissionais durante as diversas fases do tratamento.

Esta equipe de profissionais, composta por diversas especialidades, é conhecida como Equipe de Atendimento Multidisciplinar (EMD), sendo formada por oncologistas clínicos, cirurgiões, radioterapeutas, enfermeiras, farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos.

Outros grupos com formação especializada, tais como radiologistas, patologistas e especialistas em cuidados paliativos também contribuem para o atendimento de pessoas com câncer e compõem, ao longo das diversas fases do tratamento, a equipe de atendimento do paciente.

Na literatura existem diversos estudos que mostram que cuidar do paciente em equipe multidisciplinar otimiza o trabalho e pode reduzir a taxa de mortalidade, além de melhorar a gestão hospitalar e ambulatorial. A demanda pela formação de equipes cresceu em paralelo com a reforma dos cuidados em saúde e das expectativas crescentes para a melhoria da qualidade do atendimento e do entendimento da relação custo-benefício em saúde. Compreender como as equipes afetam a prestação de cuidados em oncologia ajudará a melhorar e mensurar o desempenho da equipe na resolução da assistência.

Apesar dos incentivos e interesses na formação de EMD, ainda não sabemos com detalhes o que torna o trabalho em equipe eficaz no tratamento do câncer. Muito do que se sabe sobre o impacto das equipes multidisciplinares vem de estudos de outras especialidades médicas, especialmente a geriatria, de alguns tipos específicos de cirurgias e do tratamento de doentes crônicos.

Um dos primeiros estudos a analisar de forma sistemática o impacto da equipe multidisciplinar no tratamento do câncer acaba de ser publicado. Pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer dos EUA e da Universidade Johns Hopkins fizeram uma revisão sistemática da literatura publicada entre 2009 e 2014 e selecionaram 16 estudos de um total de 7.806. Estes estudos abrangiam diferentes fases do tratamento oncológico: rastreamento, diagnóstico, tratamento ativo, cuidados paliativos e cuidados em final da vida. Todos os trabalhos selecionados apresentavam uma equipe multidisciplinar definida, um grupo comparativo e evidências sobre a evolução do paciente, como controle de dor, satisfação do paciente, medidas de qualidade de vida, tratamento baseado em diretrizes e sobrevida livre de doença.

O objetivo do estudo foi, através de métodos comparativos, identificar práticas que pudessem levar a algumas conclusões sobre o desempenho dessas equipes, e desta forma, contribuir para um melhor entendimento do funcionamento das equipes multidisciplinares e auxiliar no desenho de estudos clínicos nesta área.

Os resultados encontrados, embora limitados pela diversidade dos estudos e variáveis envolvidas, forneceram várias mensagens importantes para a prática clínica.

O estudo mostrou que a presença de equipes multidisciplinares nos Programas de Rastreamento do câncer melhorava a adesão às diretrizes estabelecidas e diminuía o tempo de realização de exames mais complexos após a presença de um resultado suspeito, o que levaria à diagnósticos precoces em fases iniciais, possibilitando uma maior chance de cura.

No momento do diagnóstico e do tratamento efetivo, a presença de uma equipe multidisciplinar definida melhorava a discussão dos casos e afetava positivamente o planejamento e implementação da terapia, com maior adesão às recomendações e maior eficiência na tomada de decisões clínicas, na informação dos pacientes e nos encaminhamentos para especialidades.

Na fase de cuidados paliativos, a presença da equipe multidisciplinar trouxe melhora do controle da dor e maior aderência à medicações orais. Também foi evidenciado uma potencial redução em hospitalizações e uma melhor qualidade no final da vida.

O estudo mostra que a formação de Equipes Multidisciplinares atuantes no tratamento do câncer é promissora no que diz respeito à melhoria da qualidade e da eficiência dos serviços prestados, devendo ser estimulada.

Dr. Cid Buarque de Gusmão
Médico oncologista e fundador do Centro de Combate ao Câncer

Referências:
Reviewing Cancer Care Team Effectiveness – Journal of Oncology Practice.
May 2015 vol. 11 no.3 239-246

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