O consumo do álcool e o câncer
O consumo de álcool tem sido associado a vários tipos de câncer. No mundo estima-se que 3,6% dos casos de câncer estão associados ao uso crônico de álcool e que o alcoolismo esteja relacionado com 2 a 4% das mortes por câncer.
Estudo de meta-análise realizado nos Estados Unidos concluiu que o uso de álcool está fortemente correlacionado ao risco aumentado para desenvolvimento do câncer da cavidade oral, faringe, esôfago e laringe. Evidências de risco moderado foram encontradas para o câncer de estômago, pâncreas, cólon, reto, fígado, mama, ovário e linfoma não–Hodgkin. No caso específico do câncer de pâncreas, o consumo de álcool foi associado a um risco duas vezes maior quando associado ao tabagismo. Não houve associação encontrada entre o consumo de álcool e o risco de desenvolver câncer de próstata e bexiga.
O consumo excessivo de álcool ao longo do tempo (mais de quatro doses por dia) resultou no risco mais forte, embora os níveis mais baixos de consumo de álcool também tenham contribuído para o aumento do risco.
O etanol é o tipo de álcool encontrado em bebidas alcoólicas. O modo específico em que o álcool aumenta o risco para o desenvolvimento do câncer ainda não é totalmente conhecido. Dados laboratoriais sugerem que a causa seja múltipla, podendo ocorrer por dano direto aos tecidos do corpo (pela produção do metabólito acetaldeído), pela potencialização ou modificação da ação de outros produtos químicos (por exemplo, tabaco), pela diminuição dos níveis de vitaminas e outros nutrientes, por efeitos sobre os estrogênios e outros hormônios, por modificação do peso corporal e diversos outros fatores.
No Brasil, o alcoolismo já atinge 15% da população. A tendência é de aumento neste índice, visto que os dados mostram que ele vem subindo nos países pobres e em desenvolvimento. Seria importante que durante as campanhas de prevenção e cessação do uso do álcool, o risco para o desenvolvimento do câncer fosse enfatizado, como ocorre em outras patologias mais frequentes.
A recomendação mundial para as pessoas que consomem bebidas alcoólicas é de, no máximo, duas doses por dia para os homens e uma dose por dia para as mulheres. Nas mulheres o consumo deve ser menor por apresentarem uma metabolização mais lenta do álcool, o que aumenta seus efeitos tóxicos.
Dra. Alba Oliveira
Médica oncologista do Centro de Combate aoCâncer
Referências:
• Alcohol drinking and all cancer mortality: a meta-analysis. Ann Oncol (2013) 24 (3): 807
• Molecular mechanisms of alcohol-mediated carcinogenesis. Nat Rev Cancer. 2007;7(8):599
• Alcohol consumption and the risk of câncer: ameta-analyses. Alcohol Res. Health , 2001; 25: 263 Abstract2.
• Alcohol and Cancer Risk .July 21, 2015 – Cancer Network Editors