O Câncer é hereditário?
Todo câncer tem origem genética, mas a maioria não é hereditária. Pode parecer estranho, mas as alterações genéticas que dão origem à maioria dos tumores malignos acontecem nos órgãos e tecidos que não estão relacionados à formação dos gametas – as células que transmitem as características hereditárias. Assim, estas alterações não são transmitidas aos filhos.
As alterações genéticas (mutações) que podem aparecer na maioria dos órgãos são chamadas de somáticas (“soma” quer dizer corpo em grego), enquanto que aquelas que aparecem nos gametas são chamadas de germinativas. Para que haja transmissão de uma característica genética para os descendentes, o código genético (DNA) correspondente tem que estar presente nos espermatozoides ou nos óvulos.
Para a grande maioria dos tumores, as mutações acontecem em uma célula pela ação de estímulos externos (carcinógenos – tabaco, álcool, raios ultravioleta, algumas substâncias químicas etc.) ou internos (hormônios, erros no momento da cópia do DNA, entre outros). Estas mutações podem se acumular com o tempo, e após vários anos, transformar uma célula normal em uma que possui a capacidade de se dividir sem controle e invadir outros órgãos, características fundamentais de um câncer.
Em cinco a dez por cento dos casos, o indivíduo portador da doença tem uma mutação herdada – que já estava presente no espermatozoide ou no óvulo- do pai ou da mãe. Nestes casos, esta mutação está presente em todas as células do corpo, e dependendo do gene mutado, cânceres de determinado tipo podem ocorrer ao longo da vida daquele indivíduo.
Atualmente, existem 36 síndromes familiares de câncer, onde alguns membros da família apresentam tumores malignos (e às vezes benignos) específicos. Para muitas, as mutações genéticas são conhecidas, enquanto para outras ainda não. As síndromes mais comuns são a que dão origem aos cânceres de mama e ovário e aquela que favorece o aparecimento de tumores malignos do intestino. Nestas, os genes mutados são conhecidos e podem ser detectados através de exames de sangue ou saliva.
Recentemente, a atriz Angelina Jolie foi submetida a uma cirurgia para prevenção de tumores de mama e ovário, porque descobriu-se que ela era portadora de uma mutação no gene chamado BRCA1. Embora ela não tivesse qualquer tumor, preferiu realizar uma cirurgia para diminuir drasticamente a chance de que algum câncer se desenvolvesse. Outras mulheres preferem optar por um acompanhamento médico mais intenso, ou em alguns casos, pela prevenção através do uso de medicações.
No Brasil, a Agência Nacional de Saúde, que supervisiona as atividades dos convênios e seguros de saúde, determinou que estas instituições devem arcar com testes genéticos para algumas síndromes, desde que certos critérios estejam presentes, o que veio facilitar o diagnóstico e aconselhamento dos indivíduos afetados.
O aconselhamento genético por um profissional especializado pode ajudar pacientes e seus familiares a determinar se existe uma síndrome familiar de câncer, determinar quais são os testes mais adequados e, principalmente, orientar quanto à melhor opção de tratamento ou acompanhamento.
Caso sua família apresente uma histórico positivo para o câncer, você deve procurar seu medico e conversar com ele sobre a indicação de aconselhamento genético.
Dra. Mariangela Correa
Médica oncologista do Centro de Combate ao Câncer