CCC realiza evento para discutir novas tecnologias na saúde
O Centro de Combate ao Câncer realizou no dia 5 de outubro de 2010, no hotel Tivoli São Paulo – Mofarrej, o 2º Simpósio CCC, intitulado “Incorporação de Novas Tecnologias na Área de Saúde”.
Uma das participantes foi a Dra. Ana Maria Malik, Presidente do Conselho da ALASS – Associação Latina para Análise de Sistemas de Saúde – e Coordenadora da GVSaúde (Fundação Getúlio Vargas), que falou sobre como essas incorporações são absorvidas. “Muitos dos avanços da tecnologia são estimulados, e cada lado da cadeia tem seu ponto de vista e seu interesse”, afirma. Em sua opinião, a tecnologia não pode ser um fim, mas um meio, e deve vir acompanhada de conhecimento, arte e técnica. “A tecnologia pode ser usada como um complemento, mas certamente ela sozinha não definirá o que fazer”, pondera Ana Maria.
Para dar a visão do sistema de saúde o convidado foi Dr. Linus Pauling Fascina, Superintendente Hospitalar do Hospital SEPACO, que falou sobre a dependência do Brasil em relação às novas tecnologias externas. Para exemplificar, ele citou uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que mostra que apenas 146 das novas patentes são brasileiras, número muito distante da Coreia e dos Estados Unidos, países que têm forte produção científico-profissional. Além disso, ele relatou a posição do SEPACO. Segundo o Dr. Linus Fascina, no hospital a aquisição de novas tecnologias começa com um trabalho na unidade. “Buscamos a inovação tecnológica que atenda a mais pessoas com menos recursos. Quando não temos a inovação, buscamos alianças com a rede credenciada ou com a operadora de saúde”.
Já o médico oncologista Cid Buarque de Gusmão, membro da International Society for Pharmacoeconomics and Outcomes Research (ISPOR) e presidente do Centro de Combate ao Câncer, representando a visão médica do processo, abordou os erros e acertos no momento em que o médico decide incorporar uma nova tecnologia. “Poucas vezes se coloca o médico à frente desse processo. Talvez errássemos menos se participássemos mais ativamente da discussão”, afirma. O Dr. Cid Gusmão ressaltou ainda que a sociedade precisa participar da discussão e definição sobre a validade dessa incorporação. “A medicina incorpora benefícios em todas as áreas muito rapidamente, mas existe um custo embutido nas incorporações. Deve ser sempre avaliado pelo médico o real benefício clínico que trará ao paciente. Entretanto, existem tecnologias que podem ser incorporadas sem custo, como parar de fumar”, pondera.
A visão de mercado teve a representação do Dr. Denizar Vianna, membro da Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologia em Saúde (Rebrats) do Ministério da Saúde, e Coordenador do Centro de Excelência em Avaliação Econômica e Análise de Decisão da ProVac Network – Pan American Health Organization (PAHO). Segundo ele, para fazer a avaliação da incorporação, o Ministério da Saúde formulou algumas regras e critérios. A partir daí foi possível avançar. “O grande desafio para incorporar as novas tecnologias passa também por buscar alternativas de financiamento”.
O Dr. Luiz Henrique de Almeida Mota, Superintendente Médico e de Relações Institucionais do Hospital do Coração – Hcor – e ex-Secretário Municipal de Saúde de Porto Alegre (RS), apresentou a visão de um hospital. Em sua opinião, o grande problema enfrentado pelos países em desenvolvendo está relacionado à transferência de tecnologia. “Não temos capacidade para fazer avaliações e avançar com tecnologia própria. A transferência, com aceitação passiva, cria um alto grau de dependência e a formação de monopólio e oligopólio”, alerta o Dr. Luiz Mota. Ele acredita que a decisão deve vir acompanhada de uma análise crítica do hospital tendo em vista as capacidades e definições de atuação estratégica do estabelecimento.
Por fim, a plateia pôde conhecer a visão de um paciente, e quem abordou o assunto foi Christine Jerez Telles Battistini, Presidente da International Myeloma Foundation Latin America (Fundação de Apoio aos Pacientes de Mieloma Múltiplo) e Presidente do Instituto Espaço de Vida. Para ela, os pacientes precisam saber que serão bem tratados. “O paciente que descobre uma nova tecnologia quer ter acesso a ela, porque pode ser uma esperança de cura.” Ela ainda acrescenta que o uso de uma nova tecnologia pode fazer a diferença. Depois de apresentados os diferentes pontos de vista sobre a questão, percebeu-se que esse é apenas o começo de uma discussão longa que precisa chegar a resultados que agreguem os interesses de todas as áreas envolvidas.
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