Câncer e o sexo masculino
Por Dr. Cid Buarque de Gusmão, médico oncologista fundador do Centro de Combate ao Câncer.
É pouco provável que a medicina encontre em um futuro próximo a cura do câncer.
O câncer é, na realidade, um conjunto de mais de 200 doenças que tem em comum a presença de uma célula que fugiu dos mecanismos de replicação e morte celular corretos e adquiriu outras capacidades, como multiplicação celular descontrolada, migração e invasão para outros tecidos, que a caracterizarão como uma célula maligna. Assim, o que a medicina consegue, hoje, é encontrar a cura para alguns tipos de câncer e nas doenças ainda incuráveis temos conseguido controlar a doença por mais tempo, aumentar a sobrevida do paciente e sua qualidade de vida. Toda a luta da medicina contra o câncer se tornará mais fácil se pudermos evitar que ele se desenvolva ou descobri-lo em um estágio inicial. Desta forma, modificarmos nossos hábitos de vida ou realizarmos exames periódicos são fatores que podem salvar mais vidas e ter maior impacto na sociedade.
Não podemos esquecer que o câncer é uma doença passível de prevenção. De forma geral, 40% dos tumores são causados pelo hábito de fumar. Uma vida sedentária, associada a dietas calóricas, obesidade e consumo exagerado de álcool causam outros 30%. Assim, modificando nosso comportamento poderíamos evitar uma gama enorme de tumores. Mas o que podemos fazer nos tumores que apresentam uma predisposição genética ou mesmo acontecem por acaso, decorrentes de mutações que nossas células desenvolvem diária e continuadamente?
Nestes casos, a melhor solução é o diagnóstico precoce. Tumores descobertos em sua fase inicial e pequenos, têm uma chance de cura que pode chegar a 100%. E é neste aspecto que devemos procurar intervir. Apesar de termos remédios cada vez mais seguros e eficazes para tratar o câncer, será por meio do diagnóstico precoce e na mudança dos nossos hábitos que conseguiremos salvar mais vidas.
O INCA – Instituto Nacional de Câncer, estima que serão diagnosticados 460 mil novos casos da doença em 2009 no Brasil. Muitos receberão o diagnóstico em uma fase avançada, onde a cura é impossível. No mundo, estima-se que este ano 12 milhões de novos casos serão diagnosticados e sete milhões de pessoas morrerão pelo câncer. Estes são números que tendem a aumentar. Por ser uma doença degenerativa, na medida em que envelhecemos temos uma maior probabilidade de desenvolver a doença.
Mas ainda podemos modificar isto. Exames que possibilitam o diagnóstico precoce devem ser realizados rotineiramente. Em alguns tumores, como os de próstata, pulmão, cólon e cabeça e pescoço, a realização de exames periódicos, chamados de exames de rastreamento, podem diagnosticar o câncer em um estágio inicial e aumentar a chance de cura. Destes, os tumores de próstata e pulmão merecem especial atenção no sexo masculino. Somente neste ano, cerca de 65.000 casos novos de câncer de próstata e pulmão devem ser diagnosticados no sexo masculino de acordo com estimativas do INCA.
No câncer de próstata, que afeta 13% dos homens aos 60 anos e 45% dos homens aos 80 anos, sabe-se que a realização do toque retal anual e, quando indicado, o exame da dosagem do PSA (Antígeno Prostático Específico) pode fazer uma enorme diferença. Quando diagnosticado na fase inicial, 85 a 90% dos casos são curáveis. Porém, isto cai para 35% se diagnosticado mais tardiamente, quando o tumor já saiu da próstata. A partir dos 50 anos, o homem deve realizar exames anuais. Caso ele tenha um paciente de primeiro grau (pai, irmão) com câncer de próstata, seja obeso ou negro, os exames devem começar aos 45 anos, pois a chance de desenvolver a doença é maior.
Hoje não existe mais dúvida de que o cigarro encurta a vida. Somente 50% das pessoas que fumam mais de dois maços de cigarros ao dia vivem mais de 70 anos. Em 90% dos casos de câncer de pulmão os pacientes são fumantes, e não existe nenhuma vitamina, remédio ou suplemento alimentar que diminua a possibilidade do aparecimento do câncer de pulmão. O melhor a se fazer é não fumar, e nos fumantes prestar atenção ao aparecimento de sintomas, como rouquidão, tosse contínua, falta de ar e, às vezes, sangramento ao tossir. Para estes, deve-se realizar uma radiografia de tórax uma vez ao ano, e em casos selecionados, a tomografia computadorizada.
Infelizmente, o homem é relaxado quando o assunto é sua saúde. Ao contrário das mulheres, que todo ano realizam o exame de papanicolau e a mamografia, que sozinhos salvam milhões de mulheres, o homem ainda tem preconceito com os exames e adia a consulta sempre que pode. Cerca de dois terços dos homens procuram o consultório médico por serem obrigados pela esposa. Não só quando a preocupação é o câncer, mas ele também evita o cardiologista, o proctologista, enfim, o médico.
E isto deve mudar. Sem a realização de consultas e exames periódicos será impossível melhorarmos nossa saúde, diminuirmos o impacto das doenças e assim vivermos mais e com melhor qualidade de vida. Lembre-se: prevenir é melhor do que remediar.
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