Boas notícias para pacientes com câncer de mama: muitas não precisarão de quimioterapia.
Muitas mulheres com câncer de mama em estágio inicial, que receberiam quimioterapia de acordo com os padrões atuais, não precisam realmente da quimioterapia, de acordo com um grande estudo internacional apresentado nesta semana na ASCO, o maior congresso da oncologia mundial, realizado em Chicago – EUA e publicado na New England Journal of Medicine.
Na prática, o estudo significa que milhares de pacientes não precisarão se submeter a um tratamento que podem trazer efeitos colaterais significativos, e que ao final não iria beneficia-las.
O estudo, chamado TAILORx, foi iniciado em 2006 e financiado pelos governos americano e canadense e por algumas entidades filantrópicas. No mundo, os dados mais recentes publicados são de 2012 e mostram que o câncer de mama foi responsável por 1,7 milhôes de casos novos, e mais de 500 mil mortes. No Brasil, a estimativa do INCA (Instituto Nacional de Câncer) é de 60.000 casos novos diagnosticados em 2018.
A quimioterapia pode salvar vidas, mas ao mesmo tempo, apresenta sérios riscos potencias, que tornam importante evitar o tratamento quando não for claro o seu benefício. Além da perda de cabelo e náuseas que os pacientes temem, a quimioterapia pode causar danos cardíacos e neurológicos, deixar os pacientes vulneráveis à infecção e aumentar o risco de leucemia mais tarde na vida.
O estudo avaliou 10.273 mulheres, com idades entre 18 e 75 anos, escolhidas aleatoriamente para se submeterem a quimioterapia e terapia hormonal ou apenas a terapia hormonal. Os resultados buscavam definir principalmente o percentual de reincidência da doença e o tempo de sobrevida.
As pacientes foram separadas em grupos baseados no resultado de um teste genético, o Oncotype DX. O teste é realizado no tumor da paciente, e é baseado na pesquisa de 21 genes presentes no tumor, que determinam uma pontuação separando a paciente em grupos de risco baixo, risco intermediário e risco alto de recidiva e se o tratamento pode ou não trazer benefício, no que diz respeito a diminuição da taxa de reincidência da doença
As pacientes que obtêm uma pontuação baixa (escore de 0 a 10) são consideradas como tendo uma taxa muito baixa de recorrência distante (2% em 10 anos), e que a recorrência não é susceptível de ser diminuída com o uso de quimioterapia adjuvante, não estando então a quimioterapia indicada. A pontuação acima de 25 significa que há alto risco de reincidência, e a quimioterapia está recomendada por diminuir este risco, aumentando a taxa de cura. No entanto, as pacientes com resultado intermediário (entre 10 e 25) são o grupo que representam um dilema na decisão médica, pois o benefício da quimioterapia não estava claro, e esta faixa foi o foco principal do estudo.
O resultado do estudo mostrou que as mulheres em fase inicial, com tumores de um a cinco centímetros, que não se espalhou para os gânglios linfáticos na axila, com receptor de estrogênio positivo, teste negativo para a proteína HER2; e com pontuação de 11 a 25 (ou sejam de risco intermediário) no Oncotype Dx poderiam ser poupadas da realização da quimioterapia e serem tratadas com hormonioterapia exclusiva, pois o estudo não mostrou nenhum benefício em termos de diminuição de reincidência da doença nas pacientes com risco intermediário, quando comparados o grupo que realizou hormonioterapia exclusiva com o grupo que realizou hormonioterapia mais a quimioterapia. Estes resultados não foram afetados por nenhum dos parâmetros avaliados, exceto a idade.
Nas pacientes abaixo de 50 anos, com resultado entre 11 e 25 no teste, a quimioterapia mostrou ter um pequeno benefício. Ocorreram 2% a menos de reincidências no grupo com resultado de 16 a 20 e 7% menos de reincidência no grupo com o escore entre 21 e 25, e estes resultados devem ser discutidos com a paciente no momento da decisão de plano de tratamento.
Em termos gerais, o estudo apresenta um grande impacto e é definidor para mudança de conduta. A aplicação do Oncotype DX na prática clínica poderá evitar que cerca de 70% das mulheres nas condições referidas sejam poupadas da quimioterapia, limitando seu uso para apenas 30% das pacientes que verdadeiramente irão se beneficiar dela.
Existe ainda um desafio a ser enfrentado no Brasil, pois apesar de disponível, o teste ainda não é oferecido no SUS ou no sistema de Saúde Suplementar, e possui um custo elevado, de cerca de 12 mil reais, o que na prática não torna possível seu emprego para a grande maioria dos pacientes no Brasil. Esperamos que este estudo facilite e justifique uma mudança de conduta nos gestores de saúde e que o uso possa ser implantado o mais rápido possível.